Revista Héstia

Revista Héstia, nº 1 – Chamada para publicação

Dossiê temático: A casa como território de criação e resistência

No ambiente caseiro, microcosmo da realidade universal, estão contidas todas as atividades do homem, desde o nascimento, passando pelas primeiras descobertas – o andar, falar e pensar – até a sua expressividade madura, que ocorre em ressonância com o espaço. A casa é a própria identidade do sujeito, se revela como espelho dos movimentos de seu mundo psíquico e emocional, servindo-lhe ainda de roupagem para seus corpos. O lar é onde se encontra o coração e, mais do que isso, ele pulsa como um organismo vivo.

A Revista Héstia inaugura seu primeiro número recebendo contribuições de pesquisadores, escritores e artistas que se interessem pela casa como espaço de resistência e de ação criativa no mundo. Interessa-nos o movimento de constatação dos impactos causados pelo homem à Gaia no presente momento histórico – Antropoceno –, sejam eles ambientais, sociais ou espirituais, mas principalmente de enfrentamento à desorientação humana, decorrente dessas marcas profundas que podem ser lidas na terra, no ar, nos corpos, nas paisagens, nas mais variadas obras, nas florestas e construções. Aceitamos artigos, resenhas, ilustrações, fotos e textos literários que pensem a casa como espaço não só de abrigo e moradia, mas também como centro de ação e resistência pelas múltiplas práticas domésticas; que pensem a Terra como um corpo maior desse espaço de habitação e que recebe os registros humanos.

Acreditamos que a arte, a escrita e a pesquisa têm a potência de atenuar o desgaste existencial que acomete a consciência e a alma coletivas, uma responsabilidade ética que não enseja, entretanto, alcançar o maior de número de pessoas, mas que se reflete na atitude de representar aqueles que não podem se expressar por si mesmos e que são, na verdade, a emanação de todas as coisas existentes, porque “somos todos uma essência em perigo. Uma alma que decline do outro lado do mundo arrasta para a ruína também a nossa alma”. (KAZANTZAKIS, 1997, p.130). Ao olhar para os espaços habitados em conjunto, estabelecemos “conexões possíveis entre uma multiplicidade de práticas e lutas”. (SZTUTMAN, 2018, p.353)

Se o período histórico em que nos foi dado atuar sofre com os impactos humanos no meio ambiente e na configuração do próprio ser, a casa é o espaço primeiro de inscrição dessas marcas e, ao mesmo tempo, a potência para a criação de novos estratos geológicos.

Os seguintes temas serão, portanto, bem-vindos: as práticas domésticas; as ações de luta e resistência na preservação do meio ambiente; os trabalhos manuais; as revoluções femininas em relação ao espaço; modos de existir na Terra; a luta dos povos originários; o cuidado de si e do outro; a responsabilidade histórica de cuidar da casa atribuída às mulheres, suas implicações e emancipação; relações poéticas com o espaço de viver; relações sagradas com a terra, a casa e o cosmos; formas diversas de atuação do indivíduo e que podem reverberar no coletivo.

Os trabalhos devem ser encaminhados para o e-mail: kore.editorial@gmail.com

Prazo para submissão das propostas: 31 de outubro de 2022

Publicação em dezembro

A Revista Héstia é parte integrante do projeto de publicação do livro Oikospoética: a tecelagem literária de retorno ao lar (Telucazu/Koré) de Carol Diniz Bernardes, que recebeu apoio ProAC (19/2021).

Bibliografia:

BACHELARD, G. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

BARRENECHEA, M. A. Nietzsche e a liberdade. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000.

BERGSON, H. As duas fontes da moral e da religião. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.

BERNARDES, C. D. A Odisseia de Nikos Kazantzakis: epopeia moderna do heroísmo trágico. Rio de Janeiro: Cassará, 2012.

CAVALCANTI, R. Os símbolos do Centro. A imagem do Self. São Paulo: Perspectiva, 2008.

COCCIA, E. A vida das plantas: uma metafísica da mistura. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2018.

FLEISCHER, M. “Friedrich Nietzsche. Afirmação dionisíaca do mundo”. In: Filósofos do século XIX. Uma introdução. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2004.

HERMAN, A. A ideia de decadência na história ocidental. Rio de Janeiro: Record, 1999.

KAZANTZAKIS, N. Ascese Os Salvadores de Deus. São Paulo: Ática, 1997.

LINN, D. Espaço Sagrado. Como limpar e fortalecer as energias de sua casa. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

MATURANA, H; VERDEN-ZOLLER, G. Amar e Brincar. Fundamentos esquecidos do humano. São Paulo: Palas Athena, 2004.

MATURANA, H. De Máquinas e Seres Vivos: autopoiése - a organização do vivo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

SANABRIA, M. A procura do feminino. Aparecida: Ideias & Letras, 2005.

SENNETT, R. O Artífice. Rio de Janeiro: Record, 2009.

SISCAR, M. Poesia e Crise. Campinas: Editora da Unicamp, 2010.

SPENGLER, O. A decadência do Ocidente. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964.

STEINER, R. A Educação da criança segundo a Ciência Espiritual. São Paulo: Antroposófica, 2012.

STENGERS, I. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

SZTUTMAN, R. “Reativar a feitiçaria e outras receitas de resistência – pensando com Isabelle Stengers”. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 69, p. 338-360, abr. 2018.

Instruções para o envio dos textos e artes:

Textos:

Os trabalhos enviados serão submetidos à apreciação de uma comissão avaliadora, conforme a adequação à linha editorial desta chamada da revista. Serão aceitos artigos e ensaios entre 5 e 20 páginas; resenhas de até 8 páginas; contos e crônicas de até 8 páginas e poemas até 3. Os trabalhos não precisam ser inéditos.

Artes:

Serão aceitas apenas produções em imagem e devem vir acompanhadas de um arquivo em pdf, contendo a ficha técnica e dados do autor, além de serem apresentadas em alta resolução.